Quadrilha obteve provas do Enem antes do início do exame, diz polícia de MG
Rayder Bragon
Do UOL, em Belo Horizonte
Do UOL, em Belo Horizonte
- André Lana/MPE/MG/DivulgaçãoChip de telefonia GSM que transmitia o gabarito para o ponto eletrônico do candidato simulava um cartão de crédito
Quatro "pilotos" (pessoas contratadas para resolver as questões) debruçaram-se em cima do material e, duas horas antes do término do horário do Enem, repassaram a resolução das questões a candidatos espalhados em ao menos quatro Estados (São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo) por meio de transmissão eletrônica. Até o momento, a polícia disse ter identificado cinco dos destinatários, que usavam pontos eletrônicos, mas o número pode chegar a 20 candidatos que pagaram pelos serviços da organização criminosa.
De acordo com informações da polícia, os cadernos de questões foram repassados por duas pessoas ligadas à organização do Enem no Estado do Mato Grosso. A dupla já foi identificada, mas os nomes não foram revelados.
As informações foram repassadas à imprensa pelo delegado Antônio Júnio Dutra Prado, do grupo de Combate a Organizações Criminosas, durante coletiva, realizada nesta quarta-feira (26), na sede do Ministério Público Estadual, em Belo Horizonte. Ele afirmou que os responsáveis pelo caso tiveram acesso às transmissões feitas pelo grupo baseado no Mato Grosso. A quadrilha também é acusada de fraudar vestibulares de medicina.
"Dependendo do certame, os valores pagos pelos interessados variavam de R$ 50 mil a R$ 70 mil. No Enem, o valor era de R$ 200 mil. No caso das universidades de medicina, eles usavam um equipamento via frequência de rádio (para passar os gabaritos) para o ponto que estava com o candidato. No Enem, eles usavam um cartão que simula um cartão de crédito, mas, na verdade, era um chip de telefonia GSM que transmitia via celular o gabarito também para o ponto com o inscrito", disse.
Prado atua em parceria com o MPE (Ministério Público Estadual) e afirmou que boa parte das investigações será mantida em sigilo em razão de o Enem ser organizado pelo governo federal, o que demandaria a ação do MPF (Ministério Público Federal).
Conforme o delegado e representantes do MPE presentes à coletiva, ao cabo das investigações, o caso será repassado à instância superior do órgão estadual. Eles preferiram não opinar sobre a possibilidade de o Enem deste ano ser cancelado.
De acordo com o promotor André de Pinho, que acompanhou todo o trabalho de investigação, a parafernália eletrônica do grupo era tão sofisticada que a intenção dos líderes era a de "alugar" o equipamento para outras quadrilhas especializadas em fraudar vestibulares.
Os responsáveis pelo caso vão pedir à Justiça que transforme a prisão temporária de onze pessoas presas em flagrante em prisão preventiva.
Os envolvidos nas fraudes deverão responder pelos crimes de formação de quadrilha, fraude contra certames de interesse público, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, adiantou o delegado.
O Inep reafirmou nesta quarta, por meio de nota, que ainda não foi informado sobre qualquer informação sobre a fraude no Enem.
"O Inep não foi informado, sequer contatado, pela Polícia Civil de Minas Gerais sobre o teor das investigações. O Instituto já solicitou à Polícia Federal informações sobre o caso. O Inep reafirma que qualquer pessoa que tenha utilizado métodos ilícitos para obter vantagens no Enem será sumariamente eliminado do exame, sem prejuízo a outras sanções legais."
Vestibulares de medicina fraudados
O delegado Antônio Prado afirmou que o grupo vinha sendo investigado havia sete meses, após denúncia anônima recebida pelo MPE. No curso das investigações, a polícia e integrantes do órgão monitoraram em campo, a partir de outubro deste ano, a quadrilha agindo em quatro vestibulares de medicina e no Enem. Nas seleções para cursos de medicina realizadas por instituições particulares, elas foram localizadas no Estado de São Paulo (4) e Minas Gerais (1), mas os nomes não foram revelados.Segundo o delegado, a denominada "ação controlada" serviu para a polícia ter conhecimento da maneira como a organização agia. Os denominados "pilotos" recebiam valores que variavam entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
"Em sua maioria, são universitários de cursos de medicina e alguns já fazendo residência", afirmou o delegado da Polícia Civil.
Postar um comentário